17 de março de 2014

"Alta noite já se ia
ninguém na estrada andava
No caminho que ninguém caminha,
alta noite já se ia
Ninguém com os pés na água..."


Ninguém caminha comigo. Sou só. Sou solidão. Sou muralha indecifrável, impenetrável. No meu caminho apenas sombra. Apenas sobras de falhas. Na manhã ensolarada, pedras e espinhos. Sou rosa. Sou passos marcando a estrada lamacenta. Sou tentáculos. Sou verde e amarelo. Oito ou oitenta. Sou só. Sou furacão devastando cidades, corações, canções. Sou brisa. Sou frio. Vento puxando água dos sonhos na tarde cinza. Sou o olhar daquela menina feliz. Sou a lágrima do bebê chorão. Sou a esperança do jovem e a lembrança do velho. Gotas e gatas. Sou catarse. Sou ópera. Na carta, sou "eu te amo" sincero e "eu te odeio" envergonhado. Não sou nada além disso. Sou tudo, sou nada. Palavras vomitadas na sopa de letrinhas. Sou a noite de inverno. A fumaça do cigarro. Sou ele. Sou você. Sou só. Solidão.