23 de janeiro de 2008

"(...) se persistíssimos em afirmar que as nossas decisões somos nós que a tomamos, então teríamos de principiar por dilucidar, por discernir, por distinguir, quem é, em nós, aquele que toma a decisão e aquele que depois a irá cumprir..."

José Saramago, in Todos os nomes

14 de janeiro de 2008

Vivendo

Vamos Viver
Herbert Vianna

Vamos consertar o mundo
Vamos começar lavando os pratos
Nos ajudar uns aos outros
Me deixe amarrar os seus sapatos
Vamos acabar com a dor
E arrumar os discos numa prateleira
Vamos viver só de amor
Que o aluguel venceu na terça-feira

O sonho agora é real
E a chuva cai por uma fresta no telhado
Por onde também passa o sol
Hoje é dia de supermercado

Vamos viver só de amor

E não ter que pensar, pensar
No que está faltando, no que sobra
Nunca mais ter que lembrar, lembrar
De pôr travas e trancas nas portas
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Depois de escutar essa música hoje, enquanto fazia meus afazeres domésticos, fiquei pensando: será possível viver só de amor??? Será possível conseguirmos esquecer a vida lá fora e viver de amor?

O quê vocês, meus leitores e amigos, acham disso?

2 de janeiro de 2008

Era-me tudo estranho. As cores do meu quarto haviam mudado. Não reconhecia nem os rabiscos da parede e que, definitivamente, foram feitos por mim, pois era minha letra ali. E elas me diziam que eu não sabia de mais nada, que não enxergava mais como antes. Senti minha perna tremer, solitária debaixo do lençol. Os sonhos voavam em mim, mas não se aproximavam o suficiente para me tocar. Teriam medo de mim? Meus próprios sonhos? Levantei-me, estava com uma camisola branca que nunca comprei, numa cama que nunca deitei, num quarto cheio de palavras minhas, mas que nunca havido estado antes. Senti uma vertigem e um líquido amarelo jorrou de minha garganta para aquele chão limpo, não mais branco. Olhei a porta: aberta. "Ufa! Não estou em um manicômio". Apoiei-me na cama e desviei-me do vômito amarelo, fui até a porta e olhei para um corredor vazio, sem fim, com muitas portas abertas. Senti outra vertigem e dessa vez tamb´m senti tontura, quase caí, mas um par de braços me segurou e colocou-me sentada numa cadeira que não havia antes ali. Olhei ao redor, meus sonhos continuavam voando, pareciam borboletas recém saídas do casulo. Não entendi mais nada. Voltei para a cama, dormir me tiraria dali? Não sabia. Apenas deitei e tentei dormir, quem sabe amanhã eu não acorde num campo cheio de árvores, flores, verde?
Era-me tudo estranho.
Adormeci.