28 de fevereiro de 2007

Partes

Este é seu corpo fazendo parte de mim:
crio, monto, desmonto peças de uma quebra-cabeça com sua fotografia
só para estar mais e mais perto de ti.

Esta é sua voz fazendo parte de mim:
sonho, imaginação, melodia de música sem fim
e assim, jamais desligo o rádio que é minha memória.

Esta é você fazendo parte de mim:
inteira, partida, cheia, vazia,
eu em você, você em mim,
assim completamos o que nos falta uma na outra.

17 de fevereiro de 2007



eu caía e já não existia mais
nem meus medos puderam me salvar
a imensidão me sugava...

eu caía cada vez mais fundo...

e caía...

caía...

caía...

...

16 de fevereiro de 2007

Um dia...

Sons...
Música em meu o uvido,
batida de coração.
Livre para aprender a voar,
para aprender a amar
e também para aprender a viver.
Sonhos que trazem mais sonhos,
que falam de você,
que mostram nosso prazer.
Caminho no escuro.
Será o futuro chegando?
O que ele traz de bom?
Ninguém sabe, ninguém desconfia
Então deixe-o me mostrar o caminho,
para que eu possa sonhar,
para que eu possa voar,
para que eu possa ser música.

15 de fevereiro de 2007

Quarto

As luzes da casa se apagaram, meus olhos não paravam de arder. Todas as peças daquela sala foram trocadas de lugar. Eu não poderia mais viver ali, eu já não era mais eu. Meus sentidos estavam esgotados de dor e ódio. O céu desabaria em minha cabeça. Nada mais fazia sentido. Deitei-me em minha cama e lá fiquei parada, absorta com o vazio da escuridão e com meus pensamentos vagueava por lugares inimagináveis. Inventei várias cidades, experimentei todos os sentidos. Ali, naquela cama vazia, gozei a vida mais que em qualquer outro momento.
Jamais encontrei as explicações que queria, aprendi a não ficar mais presa na teoria do saber. Todo conhecimento é uma peça de quebra-cabeça, e ele tem de ser adquirido conforme o que posso aprender. Aprendi a olhar tudo em volta com outra visão, outro aspecto. As coisas estavam mudando e eu continuava deitada, com meus olhos fechados e a escuridão tomando conta daquele quarto. Eu sentia que andava, corria, mergulhava, me aventurava, mas eu não saía da minha cama.
Olhei mais uma vez para mim, eu estava com cabelos compridos esvoaçando com o vento e de tão vermelho sentia o fogo em minha cabeça, vestida de jeans, tênis e regata, no topo de uma montanha meu corpo flutuava nas ondas das nuvens e se molhava com a chuva. Um sentimento de leveza me invadiu e me joguei lá de cima. Voei, voei, voei. Toda minha pele se arrepiava conforme eu me permitia ir. Passei pela minha casa, alegre, com uma claridade enorme, crianças brincando pela grama, rindo felizes. Essa felicidade contaminou meu coração. Voei baixo pela casa de meus pais, de meus avós, passeei por praças e escolas. Mas tudo havia mudado.
Voei para outro lugar. Lúgubre, frio, onde os sentimentos são deixados de lado para que o ódio e o rancor tomem conta dos corações das pessoas. É um lugar horrível, desconfortante, minha leveza deu lugar a uma penumbra sem fim, um espectro. Tornei-me fétida, feia, sem cor, meus olhos vermelhos olhavam as pessoas com desprezo. Mortificada por esses sentimentos comecei a me debater, a me machucar. Meus cabelos começaram a cair e eu chorava lágrimas de sangue. Corri o mais rápido que podia, mas minhas pernas já não agüentavam tanta pressão. Desfaleci em cima de uma pedra fria, pesada. O céu já não era mais azul e sim negro como a noite. Muda de medo, juntei a última força que tinha para voar. Tentei escapar, mas caí. Alguma coisa havia mudado.
Desmaiei entre a linha da solitária morte e da vida. Acordei e fugi dali o mais rápido que pude, mas eu já estava contaminada, apodrecida. Minha mente começou a falhar, meus olhos fechavam-se lentamente. Meu corpo morria pouco a pouco, minha respiração desacelerada. Meu coração usou a última gota de sangue para um ressuscitar maquínico, uma força que eu achava morta. Meus braços ajudaram a empurrar meu corpo para a luz do sol. Senti o cheiro de uma rosa, ouvi o cantar dos passarinhos.
A vida foi tomando conta de mim lentamente. Assim como lentamente meus olhos abriam e viam aquela luz amarela adentrar a janela do quarto. Pulei da cama atordoada. Não poderia ter sido um sonho. Eu senti, eu saí dali. Olhei minhas mãos, elas estavam tão finas quanto o resto do meu corpo. As coisas mudaram de lugar, só eu não havia prestado atenção nisso antes. Não podia ser, não fiquei mais do que duas horas deitada, mas a lua... A lua estava aqui quando eu me deitei... Alguém entrou no quarto. Quem era essa criança? O que fazia em meu quarto? De repente tudo caiu na minha cabeça como um raio. Eu já não morava mais ali. Meus pais também não. A praça, a escola, já não estavam em seus lugares. A criança olhou direto em meus olhos e sorriu. Então eu entendi. Aquela garotinha sou eu! Eu estou me dando outra chance de ser feliz, de gozar a vida. A minha vida agora pertencia a mim.

13 de fevereiro de 2007

Ai se Sêsse...

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Da vês que nois dois ficasse
Da vês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

- Cordel musicado maravilhosamente por Cordel do Fogo Encantado

10 de fevereiro de 2007

Sensações de um corpo sem movimento

Eu o vejo se aproximando, não como algo normal, corriqueiro, mas como uma flecha com urgência. É parecido com um foguete, mas vem numa lentidão de tartaruga. Esses segundos que se passam entre meu corpo e a colisão são os piores de minha vida. Curtos. Atrasados. Segundos que me alienam, que me levam para uma outra estação. Inverno. Neve. Toda paisagem branca e árvores peladas com flocos de neve em seus galhos. Sol. Flores. Primavera. Meu coração batendo acelerado. Quanto mais o tempo passa, mais perto ele se aproxima. Sinto-me, de repente, num quadro de Monet. As tintas pingando no meu rosto, meu corpo, e isso me faz tão bem, me fez sentir tão feliz em estar distribuindo as cores pela tela que esqueci que ele se aproximava. Quanto mais perto chegava, mais sentia seu calor, sua força penetrando em meus poros. Verão. Calor. Corpos suados, enroscados num abraço apaixonado. Outono. Folhas secas, caídas ao chão. A brisa em meu rosto. Esse emaranhado de sensações levitou meu corpo, eu me entreguei a essa colisão que se aproximava de mim e que me dominava. Chorei. Chorei de amor, de tesão, de tristeza. De agonia. Chorei, simplesmente. Nunca esquecerei o ato da colisão: explodi como uma bomba e caí, como se fosse uma pena de tão leve. Dentro de mim, algo se mexia. Senti um último respirar e meu coração tombou. Morri. E, de dentro de mim, nasceu uma nova mulher.

2 de fevereiro de 2007

me abraça
me traga
me agarra
me lambe
me ame
me chame
me cante
me escarra
me abafa
me afaga
me cospe
me ferve
me esquenta
me esfria
me esfrega
me cale
me faça sua
de qualquer jeito
a qualquer hora…