Venho por meio desta me resignar,
entregar meu corpo, minha cabeça, meu coração e minha alma nessa mesa, nesse
pedaço de madeira velha. Venho desembuchar todas as palavras que ficaram
paralisadas. Venho buscar arrependimento e misericórdia. Não quero julgamento,
pois já o fiz sem piedade. Quero a certeza de que a dor e a morte venham me
buscar, pegar em minha mão e dizer palavras carinhosas antes do golpe final.
Pequem! Pequem sempre, pois só assim saberemos estar vivos! Nada me importa
agora, apenas essa solidão que me assombra noite e dia, esse vazio que me
persegue, me corrói. A visão começa a faltar-me. Mas desde quando eu enxergo? Nem
lembro mais dos sabores das cores e os cheiros do som. Aqui jaz apenas um
espectro ambulante, com um cajado numa mão e a morte na outra. Deito-me nessa
mesa para repousar meus pensamentos que me cansam há milênios. Deito-me porque
meu corpo ri da fraqueza do meu coração. E é aqui que ficarei por séculos a vir.
É aqui que cantarei a canção que você fez para mim.
4 comentários:
Eu adorei, tem um personagem que eu criei, a Maria, ela está em quase todos os meus contos e em quase todos ela se mata. Eu a vejo em cada linha desse texto seu, a mesma dor, a mesma solidão, a mesma vontade de sumir...
Parabéns, ficou ótimo!
Obrigada Victor! E onde estnao escondidos esses seus contos???
Eu publiquei alguns deles lá no Facebook mesmo, como notas.
Totalmente profundo e doloroso...
Paz e bem
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