10 de fevereiro de 2007

Sensações de um corpo sem movimento

Eu o vejo se aproximando, não como algo normal, corriqueiro, mas como uma flecha com urgência. É parecido com um foguete, mas vem numa lentidão de tartaruga. Esses segundos que se passam entre meu corpo e a colisão são os piores de minha vida. Curtos. Atrasados. Segundos que me alienam, que me levam para uma outra estação. Inverno. Neve. Toda paisagem branca e árvores peladas com flocos de neve em seus galhos. Sol. Flores. Primavera. Meu coração batendo acelerado. Quanto mais o tempo passa, mais perto ele se aproxima. Sinto-me, de repente, num quadro de Monet. As tintas pingando no meu rosto, meu corpo, e isso me faz tão bem, me fez sentir tão feliz em estar distribuindo as cores pela tela que esqueci que ele se aproximava. Quanto mais perto chegava, mais sentia seu calor, sua força penetrando em meus poros. Verão. Calor. Corpos suados, enroscados num abraço apaixonado. Outono. Folhas secas, caídas ao chão. A brisa em meu rosto. Esse emaranhado de sensações levitou meu corpo, eu me entreguei a essa colisão que se aproximava de mim e que me dominava. Chorei. Chorei de amor, de tesão, de tristeza. De agonia. Chorei, simplesmente. Nunca esquecerei o ato da colisão: explodi como uma bomba e caí, como se fosse uma pena de tão leve. Dentro de mim, algo se mexia. Senti um último respirar e meu coração tombou. Morri. E, de dentro de mim, nasceu uma nova mulher.

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