27 de janeiro de 2009

Era um dia como outro qualquer. Levantou cedo, arrumou suas coisas na bolsa e saiu. Aquela noite, viajaria. Voltaria do trabalho para arrumar a mala correndo. Esperava aquela viagem há algum tempo. Sentia seu coração bater mais forte só de pensar. Há algum tempo não sentia seu corpo tremer só de pensar em alguém, nem o coração bater mais forte porque veria a pessoa amada. Trabalhou, almoçou, trabalhou mais um pouco, leu algumas revistas. Um típico dia de serviço.
Voltando para casa, o sol quente em sua cabeça, sentiu alguma coisa mudar. O vento mudara de posição rapidamente, o trânsito que sempre estava apressado, parecia ter parado, não se ouvia um único som de motor funcionando, buzinas gritando, fumaça poluindo o ar. Tudo mudara. Estava tudo parado. Menos ela. Estava ali, andando com mais pressa do que o normal, quase correndo. Uma angústia tomou posse de seu corpo. Sentiu-se perdida entre seus pensamentos. Sentiu-se perdida nas batidas de seu coração. E, de repente, como um soco, a vida voltou ao normal. O barulho, a fumaça intoxicante, pessoas gritando, o mundo girando, girando, girando.
Voltou para casa assustada e arrumou a mala rapidamente. Comeu alguma coisa e pegou um táxi para a rodoviária. Pegou sua passagem e viu a plataforma: 34. Enquanto descia a escada rolante, escutou sinos batendo espaçadamente. Não lembrava de nenhuma igreja ali por perto, ou será que os sinos da igreja perto de sua casa a invadiram? Sentiu-se muito estranha. Coisas estranhas acontecendo. Olhou o relógio: 21 horas e 42 minutos. Ainda tinha quinze minutos antes de pegar o ônibus. Virou-se para ir a plataforma. Assustada viu o relógio novamente: grande, com os ponteiros correndo. O espaço parecia espelhado, mas ela era a única pessoa que não estava duplicada. Era a única que se movimentava. Toda a rodoviária parada, os ônibus no meio da pista, pessoas comendo seus pães de queijo e bebendo seus cafés. O líquido parado no ar! Mais uma batida de sino. O relógio parou. Era o horário de seu embarque e não conseguia sair dali. Olhava em torno e ninguém parecia se importar. Ninguém se importava se ela estava feliz, se estava triste, se gritava, chorava. Estavam todos ali com o mesmo destino: viajar.
Fechou os olhos e ao abri-los novamente, estava dentro do ônibus, deitada em sua poltrona. Pensou se tudo não passou de um sonho ou pesadelo. Pensou se ao querer que o tempo passasse tão depressa não o fez parar de vez para enlouquecê-la. Fechou os olhos novamente. A lembrança daquele belo olhar a fez dormir.

Um comentário:

Rosana Kali disse...

Estou aqui relendo seus contos e poemas que mais gosto, linda!
Já que você não está aqui, ler o que você escreve é uma forma de te sentir!
Te adoro!
Beijos!