22 de novembro de 2008

O avião pousou. Estava nervosa. Sentia seu coração bater aceleradamente. Não sabia mais o que sentia. Ou sabia e não queria confessar. Há cinco anos foi morar em Portugal e não voltava para o Brasil desde então. Não queria mais ver aquele rosto do qual sentia tanta saudade, nem ouvir aquela voz irresistível. Seria o homem de sua vida, caso tivesse algum relacionamento com ele. Nunca o disse, no entanto. Não era o momento. Talvez pudesse o dizer agora, mas eram tão amigos! E não se falavam há tanto tempo!
Ao sair do aeroporto, passou pelo seu apartamento, que só não estava abandonado, porque pagava mensalmente uma mulher para cuidar dele. Comeu alguma coisa rapidamente e saiu. Foi para aquele bar onde sempre freqüentou com ele. Antes de sair de Portugal, mandou um e-mail para que se encontrassem ali. Não sabia se ele iria, pois não viu mais sua caixa de entrada.
Sentou numa mesa e pediu um chopp. Balançava sua perna incessantemente. A angústia tomou conta de sua mente. Pensou que ele não teria lido o e-mail, ou que já não possuía mais aquele endereço de e-mail. Ela havia partido sem dizer adeus e voltava sem mais nem menos depois de cinco anos incomunicável. Pensou também que ele ainda sentia grande ressentimento por sua repentina partida.
Olhava seu relógio e a hora passava demoradamente. Cinco minutos pareciam duas horas! Num relance, viu um homem barbado parar em frente de sua mesa e a olhar. Conhecia aquele olhar! Ele foi! Ele estava ali, parado a olhando como nunca a olhara antes!
Sentou-se e como um papagaio ele falou tudo o que queria ter falado nos últimos cinco anos em que ela fugira para outro país. Disse que a procurou, que mandou e-mails, disse ter ficado desesperado achando que ela poderia ter sido seqüestrada, assassinada, ou coisa parecida, até encontrar com uma amiga em comum, que contou toda a história da viagem. Ele se calou e a fitou. Ela não sabia o que dizer, a não ser um sinto muito envergonhado. Olhando para a mesa, viu que ele havia se casado. Sentiu seu coração apertar. Não deveria ter fugido, deveria ter dito alguma coisa. Começou a chorar!
De repente, estava falando tudo. Sobre seus sentimentos, seus ciúmes, suas inseguranças, que nunca quis perdê-lo como amigo, por isso não assumiu sua paixão. Ele esperou ela falar e contou que também era apaixonado por ela, mas não quis estragar nada. Mas que agora era tarde demais, pois estava casado e com filhos. Que aquele amor que sentiu ficou ressentido, que mudou, que nem a amizade sobrou.
Ficaram em silêncio por alguns minutos. Ele levantou e com um beijo em sua testa, se despediu. Eles não se viram mais. Ela sentiu-se aliviada por ter falado com ele, apaixonou-se por outros homens, algumas mulheres, mas jamais esqueceu aquele cheiro, aquele olhar, aquela voz que a fazia paralisar.

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